quinta-feira, 27 de outubro de 2016

ÉDIPO


Contemplo longamente a noite,
como a mãe que vela o filho.

As estrelas brilham.
Não há lua
que se derreteu
em leite e melancolia.

Mas o que mais vejo
ou quero ver, na noite,
são teus olhos que não me olham,
mas não apenas eles:
tua boca que não sorri,
teus cabelos de um castanho-do-Pará,
teu hálito que mistura hortelã
e saliva...

O gosto de tua saliva.

Procuro, através do poema,
compor teu corpo,
de fragmentos,
de lembranças,
mas tuas roupas...

És como uma esfinge sob elas,
decifro-te ou não te possuirei.

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